Encíclica "Dei Verbum"


Valorização da Sagrada Escritura,
Tradição e Magistério da Igreja de Cristo

Fernando Altemeyer, professor de Teologia da PUC, disse que “...normalmente as encíclicas são como programas de governo, definem prioridades”.

O Concílio Vaticano II em 1965 demonstrou o norteamento que a Igreja de Cristo deveria ter e preocupar-se a partir da edição da “Dei Verbum” com a Sagrada Escritura, a Sagrada Tradição e o Sagrado Magistério. O maior objetivo era difundir a Palavra de Deus em cumprimento ao projeto de Cristo de anunciar o Evangelho a toda a humanidade como narrado em Marcos 16,15.

A partir desta encíclica a Bíblia tornou-se a principal fonte de catequese como na celebração eucarística enfatizando a Liturgia da Palavra com leituras e salmos. Surgiu o apostolado bíblico com movimentos e iniciativas para a leitura, estudo e aprofundamento dos textos divinos. Buscou-se a democratização da Bíblia estimulando o povo a adquirir e a lê-la.

A Teologia que há muito havia negligenciado ou dado pouca importância ao estudo
bíblico encontra no documento um forte pedido de busca ou reencontro com o estudo dos textos sacros tendo como conseqüência a maior criatividade em detrimento a usar alguns versículos como argumento de fé. De forma objetiva e oportuna a “Dei Verbum” gera maior valorização da Teologia enquanto ciência demonstrando como esta pode apoiar a Igreja. Sugere correta interpretação dos livros com prévia oração, pois segundo o texto é por ela que falamos com Deus e pelas escrituras O ouvimos.

O Concílio mostra o zelo pela tradição da Igreja Cristã e exorta o relacionamento dela com os apóstolos sendo seus sucessores. É prepotente ao narrar o envolvimento da Igreja nos aspectos em torno dos Sagrados Livros indo desde as traduções até a hermenêutica adequada delatando a necessidade de contextualização sócio-política-econômica e cultural tanto investigando aquele que escreveu assim o entendendo ou aquele que agora lê e que tenha também esses conceitos formados como fundamental à correta interpretação.

É categórico ao apresentar a Bíblia e todos os seus livros sem exceção como inspiração divina. De forma silenciosa e subjetiva critica a exclusão de livros pelos não-católicos, mas ao mesmo tempo os chamam para uma tradução em colaboração à Igreja.

Revela a intrínseca relação do Antigo com o Novo Testamento não entrando em exemplos comprobatórios das mesmas embora a bíblia é rica neles. Foca a perfeita obra de Deus nos testamentos a partir de homens escolhidos e inspirados por Ele, mas não limitados na integralidade das palavras divinas como que um ditado marcado pela ilibação textual. A palavra de Deus é humanizada assim como Cristo.

Enaltece a Santa Tradição como não poderia deixar de ser.
À mercê de falta de tradição muitas igrejas ou seitas se perdem pelo simples fato de discordância entre seus pares culminando na separação com formação de nova desligada da origem. Herança não deixada pelos apóstolos. Ruim? Será?

A “Dei Verbum” não deixa dúvidas quanto à caminhada da Igreja no tocante à Santa Tradição. Muito se fala sobre o fim do celibato como necessidade imperiosa, segundo alguns, de a Igreja se modernizar. Mas para quê? Não será a modernização eclesial o fim da Santa Mãe Igreja ou, no mínimo, um grande terremoto a desacreditá-la? Em que mais será cobrada de a Igreja se modernizar? Corremos o risco, na verdade grande risco, de buscarmos vestes novas para a Igreja caso se atenda às especulações mundanas atuais e deixa-la nua no futuro. A vulgarização do sagrado é busca infinita do mal. A herança apostólica que carregamos há muito tem sua manjedoura na história de Cristo. Por mais que tente colocar Maria como mulher normal e até inserirem em Jesus uma esposa, para nós Cristãos da Igreja de Cristo, Ele foi também celibatário e será sempre.

Fala-se em “abertura da Igreja”, mas será que isto deve ocorrer? É salutar tentar esta abertura? Em caso de errarmos, será possível “fecha-la”?

Uma grande abertura já ocorreu recentemente com os casais de segunda união quando a Igreja solicita que “sejam exortados a ouvir a Palavra de Deus, a freqüentar o Sacrifício da Missa, a perseverar na oração, a incrementar as obras de caridade e as iniciativas da comunidade em favor da justiça, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as obras de penitência para assim implorarem, dia a dia, a graça de Deus, acolhendo-os paternalmente na ocasião do batismo dos filhos (cf. ibid). A devoção para com a Eucaristia poderá ser cultivada mediante a "comunhão espiritual" retamente entendida”. (CDF, Carta aos Bispos da Igreja Católica a respeito da recepção da Comunhão Eucarística por fiéis divorciados, novamente casados, 1994).
Agora desta evolução pastoral autorizar à comunhão eucarística passa-se a exterminar a Tradição e manifestar a solubilidade matrimonial tendo como conseqüência a democratização do divórcio.

A encíclica apresenta uma forma de democratização da leitura bíblica de forma a guiar os passos dos que ousarem no estudo dela. Foge ou pelo menos ensina a fugir do fundamentalismo literato, da memorização ilibada de capítulos e versículos. Pelo contrário, foca até nas traduções o devido cuidado com a fidelidade atestada ou não pelo Santo Magistério da Igreja.

Para os descrentes e caçadores incessantes da razão dentro das Escrituras a encíclica mostra a possibilidade racional ao se conhecer as criaturas. Para aqueles que duvidam da canonicidade dos textos discursando contra a Sagrada Igreja quanto a alterar os originais em hebraico, grego ou aramaico a “Dei Verbum” é enfática a demonstrar a autoridade da Igreja como única guardiã dos Sagrados Livros e principalmente de ser confiada pelos apóstolos de Cristo e de ser as Escrituras construídas a partir de pessoas que conviveram com Jesus ou testemunharam sua vida. De qualquer forma, importante é a confiança depositada por Jesus na Igreja e mesmo se, caso tenha alterado algo, é por força e graça do Espírito Santo intuindo de forma lógica a, segundo a encíclica, tornar o homem perfeito. Na verdade busca-se muito a desacreditar a Sacralidade Eclesial ou tumultua-la. Isto provoca comentários, leva a muitas e enfadonhas discussões, mas a Igreja continua firme na fé e na evangelização como não poderia deixar de ser, pois se assim não acontecer Ela, como esposa de Cristo, o trairia.

Comentários

Anônimo disse…
Seu texto é muito esclarecedor no que concerne a transmissão da Sagrada Escritura, Palavra de Deus ou a Bíblia como é chamada. Seria possível que respondesse algumas perguntas diretas?
Anônimo disse…
No intuito de disseminar o conhecimento, poderia os questionamentos abaixo?
I)Conforme D V, qual o objeto da Divina Revelação e qual a vontade divina para o ser humano?
II)De acordo com a D V n.2 como acontece a Revelaçao?
III)Haverá outra revelação pública?
IV)O que é obediencia a fé, ante a Revelação?
V)Quem foi confiada a transmissão da Revelação Divina?
VI)Qual a importância da Sagrada Tradição?
VII)Como Deus preparou a revelão evangélica?
VIII)Que significa consumação e plenitude da Revelação?
IX) O que é necessário para adquirir obediencia da fé ante a Divina Revelação?
X) O ´que é necessidade da Revelação, segº DV n.6?
XI)Qual a relação entre Sagrada Tradição e Sagrada Escritura?
XII)A quem foi dada a responsabilidade de interpretar a Palavra de Deus contida ou Escrita na Sagrada Tradição?
Aguarde retorno aos questionamentos! Um grande e fraternal abraço. Fique com Deus.
Um professor ao esclarecer um aluno quanto a determinado assunto carece de conhecer o grau de conhecimento deste discente, pois se corre o risco de ao esclarecer, confundi-lo.
Assim, tentarei aqui, dentro da mesma Dei Verbum que suscitou as perguntas, orientar partindo de que o anonimato tenha certa luz já a guiar a fé.

Jesus Cristo palavra de Deus, mediador entre nós e Deus, é o objeto da Divina Revelação e cooperar para a vida santa do Povo de Deus e para o aumento da sua fé é a vontade conforme se lê no documento.

Jesus é a plenitude da revelação. É a própria Palavra de Deus feito gente e feito carne. Nele Deus se deu a nós totalmente. Devemos receber retamente a revelação confiada aos Apóstolos por Cristo e por eles aos Bispos como sucessores. É a obediência à fé.

Cristo mandou os Apóstolos que pregassem a todos o Evangelho prometido antes pelos profetas e por Ele cumprido. Isto foi realizado com fidelidade tanto pelos Apóstolos que na sua pregação oral, exemplos e instituições transmitiram aquilo que tinham recebido de Cristo e o que tinham aprendido por inspiração do Espírito Santo como por aqueles que sob a inspiração do mesmo Espírito escreveram a mensagem da salvação.
Por isso, os Apóstolos transmitindo o que eles mesmos receberam advertem os fiéis a que observem as tradições. Assim a Igreja perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo quanto acredita. A Igreja, no decurso dos séculos, tende para a plenitude da verdade divina até que nela se realizem as palavras de Deus.
Na eleição de Abraão, na aliança com Israel e na palavra dos profetas Deus preparou a revelação, ou seja, Jesus Cristo que quando aqui chegou realizou-se a plenitude da revelação.
Deus enviou Seu Filho para habitar entre os homens e manifestar-lhes a vida íntima de Deus sendo a consumação da revelação.
Jesus Cristo enviado como homem para os homens sendo a plenitude da revelação fala, portanto, as palavras de Deus e consuma a obra de salvação que o Pai lhe mandou realizar. Por isso, ver Jesus é ver o Pai com toda a sua presença e manifestação da sua pessoa com palavras e obras, sinais e milagres e, sobretudo com a sua morte e gloriosa ressurreição. Enfim, com o envio do Espírito de verdade, completa totalmente e confirma com o testemunho divino a revelação, a saber, que Deus está conosco para nos libertar das trevas do pecado e da morte e para nos ressuscitar para a vida eterna.

Obrigado.
Um grande e fraternal abraço.
Fique com Deus.
CONTINUAÇÃO
Pela fé o homem entrega-se total e livremente a Deus oferecendo a Ele a inteligência, a vontade e prestando voluntário assentimento à Sua revelação. Para prestar esta adesão da fé são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo o qual move e converte a Deus o coração, abre os olhos do entendimento e dá a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade. Para que a compreensão da revelação seja sempre mais profunda o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa sem cessar a fé mediante os seus dons.
A revelação se faz necessária para se conhecer a vontade de Deus a respeito da salvação dos homens para os fazerem participar dos bens divinos que superam absolutamente a capacidade da inteligência humana.
A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivam ambas da mesma fonte divina e tendem ao mesmo fim. A Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo. A Sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, para que eles, com a luz do Espírito de verdade, a conservem, a exponham e a difundam fielmente na sua pregação donde resulta, assim, que a Igreja não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência. Cabe à Igreja, ainda, pelo Santo Magistério, a responsabilidade de interpretar a Palavra de Deus.

Obrigado.
Um grande e fraternal abraço.
Fique com Deus.
Herklyi disse…
A "Dei Verbum" evidencia o valor das Sagradas Escrituras no todo, destacando também a Tradição do Magistério da Igreja precedendo à Bíblia, por sinal inexistindo a Bíblia sem Igreja e o contrário já existiu. Os evangélicos com essa quase "bibliodolatria", aceitando apenas o que nela consta, como no-lo afirmam e, por não possuirem a Tradição e nem vínculo com a S. Igreja, alijam-se de Jesus Cristo. Têem raciocínio e lógica?
Prezado Herklyi,

O Fundamentalismo religioso é característica de várias religiões dentre elas o próprio Islamismo. Acreditar na Santa Tradição e Sagrado Magistério da Igreja Católica é um grande aliado no discernimento de nossa fé. Mas, creio, que nossos irmãos separados conseguem encontrar JC de outras formas e alimentar a fé com outros princípios.
O que pessoalmente busco é não entender a Igreja e demais denominações religiosas como times de futebol onde existam torcidas organizadas radicais que pormenorizem a outra.
Tenho certeza de tanto nós, Católicos, como os demais deveríamos estar buscando e torcendo por Cristo revelado e ensinado na Dei Verbum.
Quando isto ocorrer - o encontro entre JC e a arrasadora maioria do povo - teremos a paz eterna a ser contemplada no nosso mundo.
Por enquanto, existem muitos Cristãos nossos a frequentarem assiduamente as Igrejas e que se deixam levar pelo poder, pelo dinheiro em detrimento ao princípio do amar e respeitar o próximo, infelizmente.
Um grande e fraternal abraço.
Fique com Deus, Herklyi.

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